Técnica que consiste, basicamente, na confecção artesanal de um
tecido, geralmente encorpado, formado pelo cruzamento de duas estruturas de fios
obtidos de fibras flexíveis, como lã ou algodão. O uso de fios coloridos e de
técnicas diversas de entrelaçamento permite que figuras sejam compostas durante
o processo de execução.
A origem da tecelagem é de difícil localização. A prática surge
em épocas próximas e de forma semelhante em vários lugares do mundo. Na
Antiguidade, é desenvolvida por povos que habitam a Mesopotâmia, Egito, Grécia,
Roma, Pérsia, Índia e China. Países do Oriente Médio, como o atual Irã e a
Turquia, mantêm importante tradição na manufatura de tapetes, que, em geral,
contêm elaborados desenhos geométricos.
Na Europa, durante a Idade Média, a confecção de painéis
tecidos assume grande importância como elemento decorativo e funcional, o que
propicia o desenvolvimento da produção e a sofisticação da técnica. A tapeçaria
é utilizada para adornar grandes áreas das paredes dos castelos e igrejas
medievais e também para melhorar o conforto térmico destas edificações. A ela
cabe ainda uma função narrativa e didática, quando apresenta temas históricos e
bíblicos. Como exemplos destas aplicações podem ser citadas a tapeçaria bordada,
datada do final do século XI, com 68 centímetros de altura por 70 metros de
comprimento, A Conquista da Inglaterra pelos Normandos, conhecida
também como Tapeçaria de Bayeux ou Tapeçaria da Rainha
Matilda, e o conjunto de tapeçaria Apocalipse, Segundo São João,
realizado em um ateliê parisiense entre 1376 e 1381 e conservado na cidade de
Angers, França. O tema é apresentado em 7 peças, cada uma com 5 metros de altura
e 24 de largura.
A partir do século XIV, a tapeçaria bordada cede lugar para a
tecida. Neste período, entre as localidades associadas à sua manufatura,
destacam-se Arras e Tournai, em Flandres, e Paris. No final do século XV as
reformulações estéticas promovidas pelo Renascimento se refletem também na
tapeçaria. A pintura exerce maior influência sobre as peças tecidas, que passam
a reproduzir, com a fidelidade possível, as obras de importantes artistas, entre
eles, Leonardo da Vinci (1452 - 1519) e Andrea del Sarto (1486 - 1530). Bruxelas
torna-se o principal centro de tecelagem, embora a atividade já esteja bastante
difundida em toda a Europa. Nesta cidade, no ateliê de Pierre van Aelst, é
executada a partir de cartões com desenhos de autoria de Rafael (1483 - 1520), a
tapeçaria Os Atos dos Apóstolos, uma encomenda do Papa Leão X (1475 -
1521), destinada à Capela Sistina.
A partir do século XVI, a França destaca-se na produção da
tapeçaria, graças, sobretudo, à ajuda oficial às manufaturas, cuja produção
principal se destina aos palácios reais. Em 1539 é criada em Fontainebleau, por
Francisco I (1494 - 1547), a primeira manufatura real de tapeçaria. Em 1662,
Jean-Baptiste Colbert (1619 - 1683), ministro de Luis XIV (1638 - 1715), adquire
para a Casa Real as propriedades do bairro de Saint Marcel, em Paris, e faz com
que todas as oficinas de tecelagem, dispersas e produzindo com dificuldades
devido à situação econômica e social da época, se reúnam nessa área. Essa
centralização dá origem, em 1667, à Manufatura Real de Móveis e Tapetes da
Coroa, que fica conhecida como Manufatura dos Gobelins. Trata-se de um centro
criativo de atividade intensa que agrupa, além de tecelões, gravadores,
marceneiros e joalheiros, sob a direção do pintor Charles Le Brun (1619 - 1690).
Durante o século XVIII, como outros ateliês sob os auspícios reais, entre eles
Aubusson e Beauvais, tem a produção voltada para tapeçarias com motivos
campestres ou exóticos, de apelos decorativos. Os Gobelins são responsáveis pela
confecção, entre 1687 e 1688, de tapeçarias baseadas em pinturas com temática
brasileira de autoria de Albert
Eckhout (ca.1610 - ca.1666). Essas peças, conhecidas como Tapeçarias das
Índias, são repetidas e, no século XVIII, bastante modificadas em relação
aos modelos originais. Cinco dessas tapeçarias pertencem ao acervo do Museu
de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand - Masp.
A tapeçaria e algumas das instituições a ela dedicadas,
acompanham as transformações sociais e estéticas que ocorrem nos séculos
seguintes. No século XX, ateliês de longa tradição e que se mantêm em
funcionamento de forma menos ativa, como dos Gobelins e Beauvais, passam a se
dedicar por exemplo, à execução de peças criadas por artistas como Raoul Dufy
(1877 - 1953), Georges Braque (1882 - 1963), Pablo Picasso (1881 - 1973), Joán
Miró (1893 - 1983) e Henri Matisse (1869 - 1954). Artistas como Lucien Coutaud
(1904 - 1977) e Jean Lurçat (1892 - 1966) são responsáveis por introduzir
modificações técnicas na tapeçaria, considerando as possibilidades de criação
específicas do suporte. Na década de 1920, na Alemanha e por influência da Bauhaus,
a tecelagem recebe novo impulso criativo.
No Brasil, a utilização da tapeçaria como expressão artística,
pode ser percebida em trabalhos, entre muitos outros, de artistas como Regina
Graz (1897 - 1973), pioneira na renovação, na década de 1920, das artes
decorativas nacionais; Genaro
(1926 - 1971), que passa a se dedicar à tapeçaria a partir de 1950 e cria,
em 1955, o primeiro ateliê brasileiro desta arte; Norberto
Nicola (1930 - 2007) e Jacques Douchez
(1921), que em São Paulo, e na década de 1960, realizam uma
investigação formal, rompendo com a bidimensionalidade tradicional da tapeçaria;
Sorensen (1928), Burle Marx (1909-1994)
e Francisco Brennand
(1927), que produzem trabalhos valorizando as especificidades dessa
técnica.
DENNES LOPES






